Languidamente adormecida em meus braços
Fechados teus olhos de sonhos cobertos
Teus cabelos nús se enodam em laços
Em que vagabundeiam meus dedos despertos
Um sorriso alastrante em teus lábios rosados
Prometendo as doçuras por eles guardadas
Me mostra que os sonhos que por ti são sonhados
São senas da vida há muito encenadas
Tua pele estremece sensível ao toque
Que meus dedos fazem ao sabor do vento
E teus lábios extravasam a vontade em estoque
De beijar os meus mesmo por um momento
Teu olhar se esvai num suspiro lento
Teus cílios estriados com os meus se entrechocam
Teu corpo escaldante arfa num lamento
Teus poros se inflamam quando nos meus tocam
E, enfim, acordada, faminta, ansiosa
Desnudas teu corpo do espirito e d’alma
Esqueces que lá fora a vida é em prosa
E gozas a beleza deste sonho que acalma
(VG, 1990/12/05)